Da era do prazer à era da tormenta. Mais uma vez?

Atualmente vivemos um dos grandes momento da sexualidade, vivenciamos o seu ápice ou ao menos o inicio da grande liberdade das condutas sexuais. Finalmente depois de tanta luta, tanta garra, tantos conflitos e desavenças, inicia-se a era da liberdade sexual, os corpos voltam a passear livres e nus  despidos de repressões, de falo moralismo e hipocrisia. No geral, é assim que a sexualidade se apresenta no século XVI. Uma criança com sede e morta de fome. O gênero sai de cena e da lugar ao sexo. O tema mais discutido, mais ditado, mais gritado, mais calado,  mais defendido e mais apoiado. As condutas sexuais sempre polemizaram e permearam as sociedades. Quando não era falado, nem ditado, era vivido e gozado. Graças a literatura, na contemporaneidade,  gozamos da orgia da sexualidade. Porém, não foi sempre assim!

Até a religião ganhar força, existia uma liberdade sexual, bem maior que a do século XVI. Em meados do século XVII,  a era dos prazeres, a livre expressão sexual; a ausência de culpa na prática do sexo; os corpos nus… Tudo isso se dissipa, se cala e volta-se para o intimo de cada um.  Então, a beleza da livre expressão sexual encontra-se aprisionada pelas leis e instituições de poder junto à força da religião.

Especialmente nesse momento da história a sexualidade parte do princípio do prazer para o princípio da tormenta, ela passa a ser apresentada como pecado, como o proibido, o que não se ver, não se quer e não se fala. Sua prática só é bem vinda para fins reprodutivos. O pudor, o silêncio, o esquecimento passam a ser exaltados e representam agora a sexualidade que deixou de ser pública e passou-se para o lar, para o intimo de cada um, assim ela é reprimida e se mantém em cativeiro. Então, a hipocrisia pavoneia a sociedade burguesa.

Comparo o século XVII ao que a nossa sociedade está se tornando, ao meu ver ela caminha pra dois lados e um choca com o outro. Por um lado vemos mais uma vez o cristianismo interferindo e ditando normas às nossas condutas sexuais, por outro lado vemos a luta dos GLS a favor da livre expressão sexual. Alguém vai ter que ceder nessa guerra fria, pois a história nos mostra que o cristianismo nunca largou a sua postura engessada. E então, será que podemo ser um pouco visionários e arriscar um palpite acerca do lugar que ficará a nossa sexualidade mais a frente?

O MITO: Homem pode, Mulher não!

O que vai ser discutido aqui é a questão da repressão da sexualidade feminina, tendo como opressora a sociedade, que segundo Freud, como base psicanalítica e breve, se inicia no âmbito familiar e se estende até o âmbito cultural.

Segundo Regina Navaro Lins, tudo se inicia na idade da pedra onde, a relação entre sexo e procriação era desconhecida pelos homens da época que, sobreviviam e se alimentavam de frutos, raízes e caça.  (período paleolítico e neolítico)

fertilidade era uma característica exclusiva da  mulher, com essa concepção o gênero feminino detinha o poder em suas mãos, poder de vida e morte, tendo um lugar essencial na religião. Em meados do ano 1000 a.C. Houve uma grande mudança de clima e com ela terrenos mais férteis,  o gelo começou a recuar, começaram a surgir campos naturais de trigos  e com a agricultura a caça não se fez mais necessária.Deram-se início as primeiras aldeias, onde homens e mulheres trabalhavam em prol do bem comum, não tinham um conceito formado sobre casal, se relacionavam abertamente entre si, todos pertenciam a todos. Não existia uma hierarquia, durante milênios a paz reinou entre os homens e a natureza.

No período que descreverei agora, tomando emprestadas as palavras da psicóloga Solange Rosete, é que se inicia o ciclo que até hoje presenciamos, a figura masculina como referência e símbolo primordial na cultura e religião.

A convivência com os animais domesticados, que eram incorporados na agricultura, fez com que o homem percebesse a contribuição do macho para a procriação. A partir daí houve  uma ruptura na história da humanidade. A relação entre homem e mulher foi  transformada, assim como a relação entre arte e religião. O homem descobriu seu papel imprescindível num terreno onde sua potência até então havia sido negada. O homem foi desenvolvendo um comportamento autoritário e arrogante.    

É, exatamente, nesse período que a mulher sofre enormes restrições sexuais. Com  a concepção engessada de que a mulher não mais contribuía para fecundação e sim o homem, portador do sêmen que,  não só cuidava do filho como também criava a mulher, a religião tomou outros caminhos, onde a exaltação a deusas passou a ser exaltação a deuses, foi criada a figura de um deus guerreiro que esmagou a figura da fecundidade  terra-mãe. A hierarquia dominando e o cuidado com a herança passou a ser o tormento da mulher que, experimentava de castração do clitóris, confinamento, cinto de castidade e até morte por adultério, que era apenas encarada como prática de direito do homem. Tudo era válido para garantir a fidelidade da mulher que não poderia colocar em questão a legitimidade do filho.                                                                                                             Dado esses dados podemos crer que foi na transição da troca para moeda que o mundo foi completamente, influenciado a dividir-se em inferior e superior; homem e mulher.

Devemos ao patriarcado o famoso senso comum: “Homem pode, mulher não!”

Homem pode, mulher não!

Desde a antiguidade nos deparamos com esse taxativo senso comum de que,  o que  for relativo a sexo é ensinado a ser reprimido no gênero feminino.

Segundo Regina Navaro Lins as mulheres aprendem que o amor é um pré-requisito para o sexo, enquanto os homens são incitados à experiência sexual, haja amor ou não.

Mas fica a questão: Por que, para o Gênero masculino a questão sexual é tratada com mais flexibilidade e aceitação, quando na verdade o gênero feminino é tão libidinal quando o masculino? Essa questão social vem desde os tempos antigos.

Colocarei essa questão em pauta, bem fundamentada por alguns teóricos da área social da psicologia no próximo texto.